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Há cura para transtornos alimentares?

Há cura para transtornos alimentares?

 

Eles chegam de forma sorrateira e silenciosa. Seus sinais, muitas vezes, passam despercebidos. Até parecem inofensivos, afinal, qual é o problema em pular uma refeição ou fazer muito exercício físico? Quando a família percebe, ele tomou conta da pessoa e, então, surge o questionamento: há cura para transtornos alimentares?

Para a maioria das pessoas, o horário do almoço é um dos melhores momentos do dia. Podemos comer algo que gostamos muito, matar a fome e ainda socializar com a família ou colegas do trabalho. Se tem sobremesa, melhor ainda.

Mas para quem sofre com algum tipo de transtorno alimentar, o horário do almoço é uma tortura. A relação distorcida com a própria imagem corporal e o alimento torna esse momento fonte de culpa, frustração e desespero.

A cura para transtornos alimentares não é algo simples, ao contrário do que muitos imaginam. Precisamos acabar com a ideia de que é uma “frescura” ou uma “fase passageira”. É um doença. Bem séria, por sinal. E assim como toda doença, carece de um tratamento certo e acompanhamento profissional.

CURA PARA TRANSTORNOS ALIMENTARES - ANOREXIA

O que caracteriza um transtorno alimentar?

Quando olhamos na literatura, um transtorno alimentar é uma doença mental com sintomas físico e psíquicos, cuja origem é multifatorial. Para exemplificar melhor, vamos pensar na anorexia, um dos transtornos alimentares mais comuns.

Entre os sintomas físicos, temos a perda de peso excessiva, anemia, inibição do ciclo menstrual, etc. Os psíquicos são a distorção da imagem corporal, preocupação em ganhar peso, ansiedade, depressão, etc. Já sua origem é diversa: traumas familiares, maus hábitos alimentares, baixa autoestima, influência da mídia e por aí vai.

A complexidade dos transtornos alimentares

Não é só uma questão de “querer ser magra”. Até porque temos outros transtornos alimentares que se caracterizam, justamente, pelo comer compulsivo.

Os transtornos alimentares, em longo prazo, levam a distúrbios metabólicos. O corpo procura mecanismos adaptativos para lidar com essa restrição enérgica severa ou, em contrapartida, o excesso de calorias.

Na anorexia, temos alterações neuroendócrinas, com uma regulação negativa da leptina e um aumento de neuropeptídios como NPY e AgRP, de modo a aumentar a ingestão e o ganho de peso. Por outro lado, estudos mostram que pessoas obesas com Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) têm um aumento da concentração de leptina e um aumento brusco e exacerbado de dopamina no núcleo cerebral accumbens, considerado nosso “centro do prazer”.

Viu só? Não é sobre comer demais ou de menos. Essas são doenças complexas e, por isso, a cura para transtornos alimentares deve levar em consideração todo esse emaranhado de consequências.

CURA PARA TRANSTORNOS ALIMENTARES - COMPULSÃO

Quais são os principais transtornos alimentares?

A princípio, a maioria das pessoas conhece a anorexia e a bulimia nervosa. A primeira se caracteriza pela restrição energética, autoavaliação equivocada, uso indevido de diuréticos e laxativos, exercícios físicos excessivos… Já na bulimia temos episódios de compulsão alimentar seguidos por atitudes compensatórias, como vômitos induzidos, jejum, uso de laxativos, exercícios físicos intensos, etc. Em muitos casos, as duas doenças caminham lado a lado.

Mas existem outros transtornos alimentares, como que citamos anteriormente, o TCAP. Nele, há a ingestão de uma grande quantidade de alimentos em um período de tempo demarcado, seguido de uma sensação de perda de controle sobre o quê e o quanto se come. Ao contrário da bulimia e anorexia, na compulsão alimentar não há comportamentos compensatórios.

Existem ainda transtornos alimentares mais recentes, como a vigorexia e ortorexia. O primeiro, bem comum nos homens, diferente dos outros, é um transtorno de ansiedade que leva a uma distorção da própria imagem e exercícios físicos intensos. Já a ortorexia se caracteriza pela obsessão por alimentos saudáveis e nutritivos.

Tudo em excesso é prejudicial

Mesmo a ortorexia, em que a pessoa só consome alimentos “saudáveis”, traz malefícios ao indivíduo. Toda essa obsessão parte, em primeiro lugar, de um local problemático, como a insatisfação com próprio corpo ou ansiedade. Esse comportamento, em longo prazo, leva a perda de peso, isolamento social, sentimento de culpa, depressão, etc.

CURA PARA TRANSTORNOS ALIMENTARES - BULIMIA

Qual é a cura para transtornos alimentares?

Qualquer transtorno alimentar é tratável. Pode parecer impossível, é uma jornada longa, trabalhosa e cansativa, mas é possível sair dessa. Diferente de outras doenças, como diabetes, há cura para os transtornos alimentares.

Talvez, a pessoa que sofra com esse transtorno tenha que lutar pelo resto da vida com os resquícios da vozinha em seu subconsciente. A mesma voz que lhe dizia que precisava comer menos, ser mais bonita, que precisava emagrecer ou que lhe pedia para descontar as emoções na comida.

Do nosso passado não conseguimos nos livrar 100%. Apenas colher aprendizado e seguir em frente, olhando sempre para o futuro. Nunca para trás.

O primeiro passo para um tratamento efetivo

É o reconhecimento de que há um problema. Internações compulsórias até podem resolver para algumas pessoas, mas, para maioria, só leva a mais complicações.

E para a própria pessoa entender que precisa de ajuda não é na base da ameaça ou discussão. É com diálogo e empatia.

Em primeiro lugar, vão negar, vão dizer que estão fazendo uma escolha e usam a racionalização para justificar sua sintomatologia. Mas a paciência e não desistência é fundamental para que o paciente crie confiança no processo de tratamento.

Tratamento multidisciplinar

Aqui mora a chave. Não basta fazer o tratamento com um psiquiatra. É preciso ter uma equipe que entenda do assunto e o enxergue com a sensibilidade necessária.

É preciso, além do psiquiatra, um psicólogo, nutricionista, nutrólogo e clínico geral. O sucesso da cura para transtornos alimentares depende desse time. Esses profissionais funcionam como uma rede de sustentação para o paciente.

O tratamento é desafiador. As recaídas são frequentes e o processo é longo e extremamente trabalhoso. Mas é possível, não se esqueça disso. Há, sim, cura para transtornos alimentares.

Se você precisa de ajuda ou conhece alguém que precisa, sugerimos conversar com alguém de confiança. Uma sugestão é procurar o programa AMBULIM, da USP, que atua justamente na luta contra transtornos alimentares. Estamos juntos!

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